quinta-feira, 25 de março de 2010

Mulheres do semiárido seguem em Marcha

“Nós não estamos a passeio, estamos aqui porque confiamos que unidas, de mãos dadas, podemos melhorar a vida das mulheres”, desabafa Maria Madalena Oliveira Leite, a Dona Nenzinha. Ela é agricultura, diretora do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), vive na Comunidade Abóboras, município de Montes Claros, em Minas Gerais e participa da 3ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres.

A Ação acontece dos dias 8 a 18 de março no Brasil, organizada pela Marcha Mundial das Mulheres. Neste período, cerca de 2 mil mulheres de todas as regiões do país realizam uma caminhada entre as cidades de Campinas a São Paulo. Com o tema “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, a marcha pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras.

Nesta quarta-feira, dia 17 de março, as mulheres chegam a Osasco e se preparam para o ato final da marcha em São Paulo, capital, no dia 18. Centenas de mulheres de todo o semiárido brasileiro participam da Ação.

Isolda Dantas, do Centro Feminista 8 de Março (CF8) e da Marcha Mundial das Mulheres, conta que do seu estado vieram 400 mulheres, sendo que apenas 50 não são do semiárido. “Lá no Rio Grande do Norte a Marcha Mundial das Mulheres é muito permeada pelo debate do semiárido”. Isolda explica que a convivência com o semiárido tem muito a ver com a vida das mulheres. “Não há como fazer um debate da convivência sem incorporar as mulheres, pois elas fazem parte desta construção”, afirma.

A Plataforma da Ação 2010 traz diversas pautas que dizem respeito a vida das mulheres do semiárido. Como o eixo de discussão de bens comuns, que trata da questão da territorialidade, da educação contextualizada, do combate às monoculturas e às transnacionais, da questão da terra e das sementes como bens comuns.

Alexsandra de Jesus é estudante e vive no Assentamento Reunidas José Rosa, município de Sítio do Mato, na Bahia. Ela participou do debate de Soberania Alimentar, no dia 12 de março, e conta que aprendeu muita coisa que irá levar para sua comunidade. “Aprendi que as sementes transgênicas foram feitas para acabar com a fome, mas, com elas, a fome aumentou”, explica ela. Em seu Assentamento, eles plantam com suas próprias sementes, que as mulheres selecionam e guardam para plantar no próximo ano.

Anita de Cássia é agente faz parte do GT Gênero da ASA Minas. Ela vive na cidade de Jequitinhonha, em Minas Gerais, e conta que as mulheres do Vale do Jequitinhonha voltam da Ação 2010 com outro olhar. “A gente volta com muita força para tentar mudar a situação do machismo que ainda existe no Vale”, afirma.

Cerca de 20 mulheres do semiárido mineiro, vindas do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha, participam da Ação. Valéria Conceição de Souza percebeu durante a Ação que sempre foi feminista. Ela faz parte do Grupo Mulheres em Ação e vive na Comunidade quilombola Mumbuca, município de Jequitinhonha, em Minas Gerais. Valéria conta que na marcha discutiu muitas coisas que tem a ver com sua realidade: divisão de trabalho domésticos, combate a violência, machismo, solidariedade entre as mulheres, entre outras. “Falar dessas idéias na comunidade vai ser fácil, a luta será construir a prática, mas vou tentar”, afirma.

Maiores informações no site da Ação: www.sof.org.br/acao2010
Reunião da delegação mineira durante a Ação 2010.
Dia 15 de março, no boiódromo, em Jordanésia.

10 dias de Marcha das Mulheres

Hoje completam sete dias que 2.000 mulheres de todos os cantos do país colocaram os pés na estrada com a palavra de ordem: Seguiremos em luta até que todas sejamos livres!

É a 3ª Ação Internacional protagonizada pela Marcha Mundial de Mulheres numa grande marcha de campinas até São Paulo para comemoração dos 100 anos do 8 de março. Somaram-se também várias organizações que debatem e entendem a importância da luta feminista na construção de uma nova sociedade. No caminho vão estudando, debatendo e divulgando os temas: autonomia econômica das mulheres, bens comuns e serviços públicos, paz e desmilitarização e violência contra a mulher.

A marcha começou no dia 08 de março com muitas dificuldades. No início, algumas mulheres não entendiam a necessidade de andar em fileira, não entendiam quando a comida demorava a chegar, a distribuição da água era tumultuada, dificuldade de referência política, visto que vieram muitos grupos de movimentos sociais locais e nacionais de construções políticas muito diversas.

Já no terceiro dia, podemos ver no todo da marcha como a transformação na postura de cada uma vai impulsionando a caminhada para frente. As fileiras são organizadas naturalmente e mantidas com a ajuda da equipe de segurança, a equipe da água já consegue prever a quantidade necessária e mantém um ritmo de distribuição dentro do tempo necessário para aliviar o cansaço e ao final de cada percurso um descanso seguido da comida feita por um coletivo de mulheres que começam o trabalho a 1h da madrugada.

Depois do almoço e do descanso, todos os dias são mantidos espaços de formação com as marchantes dentro dos temas centrais da marcha e assim a cada situação as equipes vão tentando solucionar coletivamente e a marcha segue seus passos e a cada passo um aprendizado.

Nós da Assembléia Popular nos somamos a esta ação entendendo sua importância na luta das mulheres dentro do Projeto Popular para o Brasil. Estamos presentes com mulheres de vários estados.

O relato das companheiras que estão participando é que em todas essas dificuldades reside a beleza e a importância desta marcha, porque ali estão as mulheres da classe trabalhadora com origens completamente diversas, vindas de organizações e setores que sofreram os abalos na formação que identificamos no todo da esquerda, ali elas estão passando por um processo intenso de formação e de prática que uma marcha como essa é capaz de produzir.

Além de contribuir politicamente nos debates e no conteúdo da marcha, estamos envolvidas em todas as comissões, tarefas e espaços de direção, também temos aprendido bastante no exercício de construção em meio a tantas organizações, no enfrentamento dos problemas, no exercício da direção coletiva. Na experiência do contato entre tantas mulheres, tantas lutadoras do povo.

Essa experiência será para nós o grande acúmulo para pensar os desafios da organização das mulheres trabalhadoras com realidades tão diversas e a nossa organização interna enquanto mulheres feministas.

No final de semana chegaram mais 500 mulheres, pelo menos, e algumas que não puderam se liberar do trabalho tem se esforçado para marchar pelo menos um dia. Portanto, os cálculos são que, ao final, tenha passado pela marcha mais de 3.000 mulheres.

Na quinta feira dia, 18 de março, ás 16 horas, depois de uma caminhada de dez dias, mais de 100 quilômetros, a marcha chega a São Paulo. O ponto de chegada e o ato público de encerramento será na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu.

Convidamos toda nossa militância a se organizar e estar presente nesta chegada. Devemos recepcionar e saudar as companheiras pelo esforço empenhado, pelo desafio vencido em mais essa ação de luta na pedagogia do exemplo.

Diva Braga é artista plástica e faz parte da Consulta Popular

A Marcha Mundial das Mulheres está nas ruas

A Marcha Mundial das Mulheres (MMM) tomou a rodovia Anhanguera e chegou a Valinhos nesta terça-feira (dia 9), após um ato de lançamento vitorioso em Campinas. As duas mil caminhantes que participam da 3ª Ação Internacional da MMM no Brasil, vindas de todos os estados do país, foram recebidas em Valinhos pelas militantes locais com chuva de pétalas de rosas e distribuição de pães, uma alusão à Marcha Pão e Rosas, ocorrida em 1995 no Canadá, que inspirou o movimento.

Muitas militantes viajaram três dias de ônibus para participar da ação. Este é o caso das 350 mulheres que vieram do Rio Grande do Norte. Nem por isso elas chegaram a Campinas cansadas. Animação e irreverência tomaram conta do Largo do Rosário, no centro da cidade, onde ontem às 17h aconteceu o início da caminhada, marcando as comemorações do Dia Internacional de Luta das Mulheres. A Fuzarca Feminista (grupo de percussão da MMM) alegrou o ato com muito batuque e deu ritmo ao lema do movimento: “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”.

Lourdes Simões, a Lurdinha, do comitê da Marcha em Campinas, lembrou que o ato público no Largo do Rosário representava não apenas o início da caminhada até São Paulo, mas também o coroamento de um longo processo prévio de organização. Ela agradeceu o esforço das militantes de Sumaré, Hortolândia, Paulínea, Valinhos e Indaiatuba, cidades vizinhas a Campinas, que ajudaram a organizar a Marcha na região. Esse processo de auto'-organização e mobilização prévias se repetiu em todos os estados e vai continuar a ocorrer durante toda a 3ª Ação Internacional no Brasil. As caminhantes se dividiram em comissões de trabalho, responsáveis por atividades essenciais ao sucesso da caminhada – entre elas a comissão de segurança, água, comunicação, saúde, formação e cultura, cozinha, creche, água e limpeza.

Diversidade e união

Do Largo do Rosário, as militantes da MMM caminharam por quatro quilômetros até o Ginásio Rogê Ferreira, no bairro São Bernardo. Elas ainda tiveram fôlego para realizar reuniões de trabalho das comissões, seguida de uma breve noite de sono. Breve mesmo: às 4h, as mulheres já estavam de pé, enrolando seus colchonetes, revezando-se na fila do banho e do café-da-manhã. Às 6h, conforme o previsto, as bandeiras roxas já tomavam as ruas de Campinas rumo à Valinhos. No acostamento da rodovia Anhanguera, as duas filas de caminhantes revelavam a diversidade do movimento. Chamava atenção, por exemplo, o belo visual das indígenas Tupinambá que vieram da aldeia Serra do Padeiro, no município de Una, na Bahia, e das representantes das comunidades de terreiros.

A Marcha Mundial das Mulheres reúne militantes da cidade, do campo e da floresta, jovens, adultas e idosas, trabalhadoras rurais e urbanas, lésbicas, estudantes. O que as une é o desejo de transformar o mundo para transformar a vida das mulheres (ou, também, transformar a vida das mulheres para transformar o mundo, num movimento cíclico e integrado). Para isso é preciso dividir as tarefas domésticas entre mulheres, homens e o Estado – por meio, por exemplo, da criação de creches públicas de qualidade, conforme destacou Rosane Silva, militante da Central Única dos Trabalhadores (CUT). O tema será discutido nesta tarde em Valinhos, das 16h às 19h, na primeira de uma série de atividades de formação que acontecerão até o dia 18 em Vinhedo, Louveira, Jundiaí, Várzea, Cajamar, Jordanésia, Perus, Osasco e São Paulo.

A Marcha Mundial das Mulheres já realizou duas ações internacionais, em 2000 e 2005. Em 2010, no primeiro período do calendário da 3ª Ação Internacional (de 8 a 18 de março), pelo menos outros 50 países, além do Brasil, estão realizando marchas e outras atividades de luta. O segundo período acontece de 7 a 17 de outubro, culminando com um encontro de feministas dos cinco continentes em Kivu do Sul, no Congo.

Fonte: Assessoria de imprensa da Marcha Mundial das Mulheres

Mística de envio para Ação 2010

Mística antes da partida das mulheres para a Ação em São Paulo.
Dia 07 de março, acampamento das Mulheres da Via Campesina na Assembléia Legislativa, em Belo Horizonte.

quarta-feira, 3 de março de 2010


Semiárido mineiro na Ação 2010

“As mulheres do semiárido mineiro irão marchar para colocar as nossas discussões em pauta, a questão da água, da terra e da própria vida das mulheres no semiárido”, acredita Viviane Ribeiro, do GT Gênero da ASA Minas (Articulação no Semiárido em Minas Gerais). Ela e outras 25 mulheres fazem parte da delegação que sai do Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas para participar da 3° Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, que acontece dos dias 08 a 18 de março, de Campinas a São Paulo.

Viviane, que mora em Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, afirma que a caminhada é longa e as mulheres que irão estão transpondo grandes barreiras, na vida familiar, no trabalho e muitas outras. Ela conta que as mulheres do Vale do Jequitinhonha levam para a marcha “a história de um Vale feito por guerreiras, mulheres corajosas. Um Vale esquecido pelo poder público, mas que continua sua história, pelas mãos, pelos braços e pela coragem das pessoas que nele moram”.

Para Valquíria Lima, do GT Nacional de Gênero da ASA (Articulação no Semiárido), as mulheres do semiárido vão para a Ação 2010 com muita disposição, vontade de reforçar a luta e a organização. Ela afirma que “as mulheres do semiárido mineiro também estão na busca pela organização, na luta pelos seus direitos e pelo reconhecimento do seu papel no processo de desenvolvimento do semiárido”.

Celma Pereira Santos tem 18 anos e mora na Comunidade Cabeceirinha, que fica a cerca de 130 quilômetros da sede do município de Januária. Ela acredita que a mulher tem vez e voz e por isso irá marchar na Ação. “Espero que eu aproveite bastante e traga coisas novas para minha comunidade”, conta.

Ao todo, cerca de 25 mulheres participarão da 3° Ação Internacional pela Articulação no Semiárido em Minas Gerais. “Acreditamos que o 08 de março é um momento de fazer mobilização e luta. Nesta Ação, temas muito próximos da vida das mulheres do semiárido serão levantados, como a soberania alimentar, a questão do impacto do agronegócio, a questão da violência e outros”, afirma Valquíria.